Uma carta destinada principalmente a adolescentes e jovens
Certa
vez ouvi de uma colega de trabalho: “O problema não são as drogas, o problema é
o que há por trás do uso de drogas”, ou seja, o problema por trás do problema.
O
uso de substancias alucinógenas não é algo novo, outras civilizações anteriores
já faziam uso de plantas que provocavam alucinações, sendo inclusive utilizadas
em alguns rituais. Porém o uso de drogas em nossa atual sociedade é algo
preocupante, e preocupante não essencialmente pelo bem ou mal que esta provoca
ao organismo. Preocupante pelos motivos que levam sujeitos a fazerem uso das
mesmas, seja um rivotril ou um baseado.
Preocupa-me
o fato de que na contemporaneidade o sujeito apresenta por características a
negação da angústia, da tristeza, sendo que, de uma forma ou de outra, em algum
momento o sujeito viverá esta sensação. A felicidade não é um estado pleno de
pura satisfação. Porém frente a angústia, o sujeito, seja ele de que idade for,
terá pela frente a possibilidade de na drogadicção, encontrar um refúgio para
sair da angústia, ainda que de forma ilusória. As opções são diversas, variam
do álcool, droga lícita e de fácil acesso, fármacos cada dia mais populares,
como a ritalina, rivotril e outros mais, até outras drogas consideradas
ilícitas, como por exemplo a maconha, cocaína e seus derivados. Mas como
enunciado no primeiro parágrafo, preocupante mesmo são os motivos pelos quais
se usa.
Em
conversa recente com uma jovem, por sinal muito inteligente, pensávamos a
questão. Uma garota que pela manhã fazia uso de maconha com o objetivo de dar
uma onda, e permanecer na onda, me chamou a atenção. Observo que a priori,
dentro da rotina desta jovem nenhum comportamento extravagante é observado. Mas a
necessidade de estar em uma constante sensação de bem estar, é um risco, grande
risco por sinal. Tendo por base que em um momento ou outro a falta baterá a
porta, qual será a reação neste momento? Daí ocorre o que dizem ser a porta de
entrada para outras drogas. Não que o uso de uma ou outra droga trará a
necessidade de usar outra com potencial alucinógeno maior. O detalhe está no
motivo. Assim como um sujeito que por anos e anos usa o clonazepan para conter
a ansiedade sem concomitantemente realizar uma psicoterapia para resolver o
motivo da ansiedade, depois de um tempo necessitará usar outro medicamento mais
forte, pois o primeiro já não fará efeito. Assim também será com quem usa uma
droga ilícita. Depois de alguns anos usando maconha para conter uma ansiedade
ou tamponar uma angústia, se bem que as duas são praticamente a mesma coisa, a
maconha não mais fará efeito, e o sujeito precisará de algo mais, e daí a
entrada para o uso de outros entorpecentes.
Outro
agravante a quem realiza uso drogas ilícitas, será o fato de que este sujeito
em muitas das vezes será marginalizado, criminalizado, fazendo com que ao mesmo
reste poucas opções, entre estas, o uso de mais e mais entorpecentes. Portanto,
se você faz uso de alguma droga, algum alucinógeno, pense no motivo que o leva
a utilizar, está a meu ver é a principal questão. O uso de substancias que
alteram a percepção como uma necessidade constante, merece todo cuidado. Um
sujeito que precisa tomar um clonazepam todos os dias para dormir e um sujeito
que precise de uma cerveja ou um cigarro de maconha cotidianamente para
relaxar, ambos podem estar precisando realizar um trabalho no sentido de se
encontrarem, de resolver a real causa desta necessidade, pois caso contrário, o
risco de precisar num futuro breve aumentar a dose da droga ou a substituir por
outra mais forte, será um risco eminente.
Psicólogo Valter Fernandes
CRP 04-48977
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