Ontem
já à noite ao sair de um supermercado, ouço por acaso dois jovens rapazes, uns
19 a 20 anos estimo, conversarem sobre relacionamentos. Um deles dizia: “Mano,
se você casar com a mina, tem que ser pra vida inteira, hoje qualquer coisa o
povo separa. Meu avô morreu com 94 anos e casado com minha avó.” Confesso que a primeira coisa que me veio em
mente foi: “ Se eles soubessem o que é casamento”. Pego minha moto e saio.
Vou
refletindo então sobre a fala destes garotos e pensando sobre nossa atual
sociedade. Lembro-me de uma fala do Psicanalista Geraldo Caldeira em entrevista
a uma emissora de TV onde diz que um dos motivos para a violência no mundo é a
falta de amor. Freud já dizia: “Em ultima análise, é preciso amar para não
adoecer”. E como anda nosso mundo atual?
Os
modos de vida na contemporaneidade sem dúvida são marcados pelo tempo rápido e
pela utilização de recursos descartáveis. As relações estão também inseridas
nesta lógica de mercado consumista, relações superficiais e com pouco vínculo
afetivo, volto então à fala dos garotos: “Hoje qualquer coisa o povo separa”. O
povo separa, ou seja, larga e vai para outro, em um jargão popular: “A fila
anda”. A fila anda, como no caixa do supermercado que acabo de sair. As relações parecem estar cada dia mais vazias, como se o amor fosse algo o qual
pudéssemos pegar em uma prateleira de supermercado, se não der certo troco por
outro. O ser humano inserido em uma lógica de produto consumível. Embora não
seja eu um adepto do amor romântico de outrora, reconheço não ser o amor algo
superficial e que se possa pegar em uma prateleira de supermercado. O amor se
constrói em uma relação, leva tempo, exige investimento.
Deixando
um pouco de lado o contexto das relações amorosas e do casamento que motiva o
inicio deste escrito, podemos observar no mundo atual o que Lipovetsky chama de "A era do Vazio". Constatamos hoje mais que nunca, um grande vazio de afeto nas diversas relações
em que estamos inseridos. Isto fica fácil de observar nos diversos âmbitos
sociais. A vida em comunidade torna-se enfraquecida, a era virtual com toda a
tecnologia que poderia aproximar o ser humano, acaba por promover um
distanciamento dos mesmos. As relações são virtuais e, caso se sinta
insatisfeito, basta um click na tecla DEL, e lá se foi... O ser humano vai
assim perdendo sua humanidade, perdendo sua capacidade e sua disponibilidade
para construir. Construir... Esta talvez seja a palavra central. Triste ver
hoje a perca desta capacidade. Fato que já ocorre desde a infância onde as
crianças de hoje pouco espaço tem para construção, esta que talvez seja a mais
rica experiência infantil, a de construir seu brinquedo e o seu brincar e
criar neste contexto uma relação de afeto. *Dia destes ouvi uma menina de
quatro anos dizer : “Não gosto de minha mãe, ela não brinca comigo.” Não julgo esta mãe, sei que ela trabalha todos os dias e sua
formação obedece a regra do ter, quando deveríamos nos preocupar um pouco mais
com o ser, afinal é como disse Ana Vilela em sua música: “ A vida é trem bala
parceiro, e a gente é só passageiro prestes a partir”.
*Os fatos relatados são observações realizadas no cotidiano
do dia a dia.
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