sábado, 24 de junho de 2017

Uma sociedade sem perspectivas, sem ideais. A era do descartável.



Ontem já à noite ao sair de um supermercado, ouço por acaso dois jovens rapazes, uns 19 a 20 anos estimo, conversarem sobre relacionamentos. Um deles dizia: “Mano, se você casar com a mina, tem que ser pra vida inteira, hoje qualquer coisa o povo separa. Meu avô morreu com 94 anos e casado com minha avó.”  Confesso que a primeira coisa que me veio em mente foi: “ Se eles soubessem o que é casamento”. Pego minha moto e saio.
Vou refletindo então sobre a fala destes garotos e pensando sobre nossa atual sociedade. Lembro-me de uma fala do Psicanalista Geraldo Caldeira em entrevista a uma emissora de TV onde diz que um dos motivos para a violência no mundo é a falta de amor. Freud já dizia: “Em ultima análise, é preciso amar para não adoecer”. E como anda nosso mundo atual?
Os modos de vida na contemporaneidade sem dúvida são marcados pelo tempo rápido e pela utilização de recursos descartáveis. As relações estão também inseridas nesta lógica de mercado consumista, relações superficiais e com pouco vínculo afetivo, volto então à fala dos garotos: “Hoje qualquer coisa o povo separa”. O povo separa, ou seja, larga e vai para outro, em um jargão popular: “A fila anda”. A fila anda, como no caixa do supermercado que acabo de sair. As relações parecem estar cada dia mais vazias, como se o amor fosse algo o qual pudéssemos pegar em uma prateleira de supermercado, se não der certo troco por outro. O ser humano inserido em uma lógica de produto consumível. Embora não seja eu um adepto do amor romântico de outrora, reconheço não ser o amor algo superficial e que se possa pegar em uma prateleira de supermercado. O amor se constrói em uma relação, leva tempo, exige investimento.
Deixando um pouco de lado o contexto das relações amorosas e do casamento que motiva o inicio deste escrito, podemos observar no mundo atual o que Lipovetsky chama de "A era do Vazio". Constatamos hoje mais que nunca, um grande vazio de afeto nas diversas relações em que estamos inseridos. Isto fica fácil de observar nos diversos âmbitos sociais. A vida em comunidade torna-se enfraquecida, a era virtual com toda a tecnologia que poderia aproximar o ser humano, acaba por promover um distanciamento dos mesmos. As relações são virtuais e, caso se sinta insatisfeito, basta um click na tecla DEL, e lá se foi... O ser humano vai assim perdendo sua humanidade, perdendo sua capacidade e sua disponibilidade para construir. Construir... Esta talvez seja a palavra central. Triste ver hoje a perca desta capacidade. Fato que já ocorre desde a infância onde as crianças de hoje pouco espaço tem para construção, esta que talvez seja a mais rica experiência infantil, a de construir seu brinquedo e o seu brincar e criar neste contexto uma relação de afeto. *Dia destes ouvi uma menina de quatro anos dizer : “Não gosto de minha mãe, ela não brinca comigo.”  Não julgo esta mãe,  sei que ela trabalha todos os dias e sua formação obedece a regra do ter, quando deveríamos nos preocupar um pouco mais com o ser, afinal é como disse Ana Vilela em sua música: “ A vida é trem bala parceiro, e a gente é só passageiro prestes a partir”.

*Os fatos relatados são observações realizadas no cotidiano do dia a dia.


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