A trama trás já em sua abertura uma
imagem de um olho que se abre, imagem esta que nos dá a impressão de penetrar
neste olhar ao começar a assistir o filme.Esta cena inicial da impressão de se
tratar de um sonho, ou alguém que desperta, porém parece não ser esta a questão,
não um sonho, mas uma viagem ao interior de uma vida, de uma história.
O
filme nos mostra a história de uma jovem e bela mulher cuja profissão é “caçar
fantasmas”. Dedica-se a investigar e desvendar casos onde seres misteriosos
estão presentes, onde ocorram possíveis manifestações sobrenaturais e a provar
que no fundo não passam de imaginações das pessoas ou algum charlatão se
aproveitando do medo ou da curiosidade alheia. No início do filme temos um
exemplo deste trabalho. Nossa bela atriz cujo nome é Rebecca Hall interpretando
o papel de Florence Cathcart, personagem principal, participa de uma mesa onde
ocorre um ritual em que sacrificam um animal e clamam aos espíritos para trazerem
de volta o espírito de uma menina a pedido de uma mãe desesperada. Durante a
sessão onde todos participantes parecem estar em transe, nossa caça fantasmas
interrompe a sessão e demostra que tudo não passa de uma farsa. A criança, que
seria a menina que voltava do mundo dos espíritos era em si outra criança bem
real que aparecia em um jogo de luzes e sombras. A vela que se apagava, possuía
um mecanismo que permitia que isto acontecesse enfim, tudo não passava de um
truque bem organizado. Porém a algo nesta cena que de certa forma passa
despercebido, ou recebe pouca atenção de nós telespectadores. A senhorita
Cathcart trás consigo uma foto, a foto de um soldado, seu ex-namorado a quem
amava e que morreu em um campo de guerra. Porque Cathcart levava consigo esta
foto num rito que clamava a volta de um espírito? Seria apenas uma forma de
adentrar no ritual para investiga-lo, ou ela no fundo deseja que fosse real a
possibilidade da volta de um espírito?
De volta para casa Cathcart entra em
seu quarto e é possível ver que se deprime, sua mãe a consola dizendo lhe que
ela e seu pai respeitam este trabalho e que entendem que este de certa forma
lhe da sentido a vida, porém não podem deixar também de perceber o quanto tal
trabalho a faz sofrer. Cathcart chora um pouco, mas logo seca as lágrimas e se
recompõe, pois, subitamente havia surgido alguém trazendo um novo caso a ser investigado.
Minutos antes após ter resolvido um caso e chegar em casa, Cathcart recebe a visita
de Robert Mallory, interpretado pelo ator Dominic West. Robert é um
ex-combatente de guerra que se tornou professor de história e leciona em uma
escola, na verdade uma espécie de orfanato onde um garoto havia sido encontrado
morto e, segundo rumores, seu fantasma assombrava o local.
Após titubear um pouco Cathcart
aceita o caso, reúne todo seu aparato investigativo e parte para a escola.
Cathcart, cética que é não acredita que espíritos assolassem o local. Ela arma
então seu aparato e inicia a investigação. Na primeira noite em que realiza seu
trabalho, descobre que dois garotos estão envolvidos no episódio, porém um
deles ela não consegue identificar quem é. Com tal descoberta, o caso parece
elucidado. Trata-se de uma armação de levados garotos que brincam em assombrar as
pessoas, mas há algo mais. E o outro garoto? Quem é?
Pronta a deixar o local, Cathcart se
vê então muito mais envolvida com o caso do que talvez desejasse. Parece que
realmente há espíritos assolando o local e uma serie de eventos dos quais suas
técnicas e teorias não dão conta de explicar começam a surgir. A figura do
outro menino, o qual não havia sido identificado, continua a aparecer e causar
espanto a alguns. Nesta parte do filme a trama trás certo suspense a alguns
mais sensíveis, como meu caso, provocando até certos arrepios. Pouco a pouco Cathcart
vai enfrentando o medo que até mesmo ela sentia, e começa a descobrir sobre
este SEU FANTASMA.
Continuando a investigação, Cathcart
descobre na casa uma escada secreta, descendo por esta, sai em um porão. Neste
local a mesma se vê então frente a frente com o fantasma. Em meio a uma figura
desconexa a imagem do menino se materializa. E começa um diálogo com Cathcart. “Olhe
pela janela da casinha, olhe, dizia o menino. Você está tão próxima de
descobrir, você chegou tão perto. Tenha coragem.” Após mais um vês relutar em
enfrentar este FANTASMA Cathcart encara o medo de frente e olha pela pela janela da casinha de bonecas que havia no local.
Olhando pela janela da casinha vê
enfim aquilo que desvendaria o mistério. A imagem de uma garotinha amedrontada
se materializa em sua mente e Cathcart enxerga a imagem de uma menina que
presencia a mãe ser assassinada com um tiro disparado por seu próprio pai. Esta
garotinha foge então do pai que também quer mata-la e se esconde debaixo de uma
escada. Neste local onde se esconde está um menino, um filho bastardo que seu
pai havia tido com uma empregada, logo, meio irmão da garota. Envoltos pelo
medo os dois ficam escondidos, mas o próprio medo faz com a menina pegue um
boneco para abraçar e ao fazê-lo, realiza um barulho. Neste momento, o pai dos
meninos descobre o esconderijo e sem imaginar que seu filho também está lá,
aponta sua arma e dispara contra o local. O tiro acerta de raspão o ombro da
menina e vai em cheio contra seu irmão. Após ver seu filho cair morto por seu
tiro, o pai põe fim a própria vida com um tiro na cabeça. A menina presencia
também a morte do pai observando-o por uma fresta.
Ah!!!
Vinha me esquecendo. Cathcart possuía uma cicatriz no ombro a qual até então
dizia ser de um ataque sofrido por um leão, uma história construída não sei por
quem, mas que Cathcart tinha como verdade. Porém agora, após olhar pela casinha,
para seu passado, descobre-se como a figura central desta história. A cicatriz
em seu ombro não fora provocada por um ataque de leão, e sim por um tiro
direcionado a si, mas que acertou e matou seu irmão. A partir de então, já sem
medo algum, descobre que o fantasma do menino, era em si o seu irmão
assassinado. Mas em fim, trata-se de
um caso em que espíritos voltam para assolar a vida de uma pessoa ou não?
Diversas são as possibilidades de interpretação para o caso, sigo portanto
minha linha de pensamento a qual tem por base analítica a psicologia.
O restante da história mostra que, a
governanta da casa, Sra. Muad, interpretada pela atriz Imelda Staunton, esta
inclusive foi quem indicou ao diretor da escola a Srta.Cathcart para elucidar o
caso, era a mãe do garoto assassinado. Na época do ocorrido ela era empregada
na casa. Após a morte do casal e também de seu filho, Cathcart foi então
encaminhada para adoção. Desolada com o desfecho trágico da situação, Muad
nunca aceitou que também a menina por quem tinha afeto lhe fosse tirada,
a partir de então, Muad leva uma vida destinada a de alguma forma reunir seus
entes queridos de volta. Assim como Cathcart, Muad também dialogava com seus
fantasmas. Após Cathcart desvendar então este mistério, seus fantasmas, a
governanta satisfeita por ter conseguido trazer de volta à casa a linda menina,
resolve dar conclusão a seu plano delirante de reunir a sua volta aqueles a
quem ama. Num momento em que dialoga com o espírito de seu menino e também com
Cathcart, ela oferece a esta uma dose letal de um veneno, tomando em seguida
também uma dose deste, assim se concluiria aquilo que acreditava, ou seja,
viverem juntos para sempre no mundo dos espíritos.
Com
a morte de Cathcart desaparecem de cena a figura fantasmagórica do menino e
também da governanta, isto mostra que estes dois fantasmas somente existiam na
mente das duas. Porém, a partir de agora surge um novo fantasma, o fantasma de
Cathcart que pode dialogar exclusivamente com o professor Robert e com um
menino da escola. Em comum, tanto o professor quanto o menino, tem uma história
de vida traumática, assim como também Cathcart e a governanta Muad. Em comum
estes quatro personagens tem a capacidade de dialogar com alguns mortos, seus
fantasmas.
Análise psicológica.
Ouso
por hora dar uma explicação em que me oriento em meus conhecimentos da
psicologia para entender a questão.
Cathcart
não buscava elucidar as questões relativas aos fantasmas alheios, buscava em si
elucidar o drama de seus fantasmas. A escolha por esta profissão vem de
encontro a seu desejo inconsciente. Cathcart não se lembra dos fatos ocorridos,
quando solicitada a ir para a escola desvendar os fatos lá ocorridos, não
consegue se lembrar que um dia havia morado ali, nem mesmo reconhece a
governanta, pessoa de quem havia recebido cuidados quando ainda criança. Mas
porque não se lembra? O mecanismo psíquico que ai entra em ação, me parece uma
defesa onde os conteúdos traumáticos são recalcados. Em uma linguagem mais popular,
as visões e sensações traumáticas, por tão dolorosas que são não serão
lembradas, porém estarão em algum lugar do inconsciente da pessoa e surgirá
como um sintoma. Quanto a profissão escolhida por Cathcart, a mesma não é tão
escolhida assim, era uma busca inconsciente por algo, uma escolha realizada sem
saber por quê. Notemos que sempre ao elucidar um caso, a mesma se deprimia, por
quê? Porque no fundo não havia encontrado a solução que tanto queria, a solução
para a sua questão pessoal, não havia desvendado o seu fantasma e, quando isto
por fim ocorre, sente-se aliviada com situação, ainda que morra após desvendar
seu mistério, parece morrer em paz. As demais figuras que também enxergam e
dialogam com os espíritos, tem em comum uma história de traumas e perdas, o
que, neste caso, parecem ser a origem de suas visões, suas buscas por
respostas, por algo.
Para
encerrar este escrito, trago aqui uma reflexão a respeito de nossas escolhas e
nossas angústias. Quantos e quantos fantasmas nos assolam vezes por outra. O
que são? Nossas buscas, profissões escolhidas, e muitas vezes ré escolhidas em
nossos trabalhos e estudos, o porquê as realizamos e porque muitas vezes não
nos sentimos felizes pelas escolhas. Após um tempo, muitas vezes podemos
perceber que o motivo de tais insatisfações estarem relacionadas ao fato de que
desconhecemos o personagem principal de nossa história, por não sabermos o que
buscamos por não conhecermos a nós mesmos. Mas o conhecimento de nos mesmos impõe
uma viagem ao passado, impõe encontrar-se
com muitos de nossos tão temidos fantasmas, muitos não dão conta desta busca,
escolhem outros caminhos, por mim, prefiro enfrentá-los. Conhece-los e saber
com quem lidar me parece uma saída mais inteligente. Não fácil, reconheço, mas
que vale a pena.
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