sábado, 23 de abril de 2016

BELA, RECATADA E DO LAR.

Belas, recatadas e dos lares.
A primeira pergunta que me faço quando me proponho a pensar sobre o tema é: Sou Machista? Confesso que não tenho a resposta neste momento, talvez no final desta reflexão eu tenha uma ideia.
A frase " bela recatada e do lar" foi amplamente postada nos últimos dias nas redes sociais. A princípio parece se tratar de uma resposta de  certo público feminino a uma reportagem da revista veja cujo tema tem a mesma frase. Mas, a resposta que as mulheres quiseram dar, foi além. Uma resposta à vida, à história, aos papéis que as mulheres desempenharam no passado, à luta das mesmas por uma mudança de papéis.
Bela, recatada e do lar, era no passado quesito básico para uma "boa" mulher. Boa pra quem? Fica a pergunta.  Insatisfeitas com tal lugar destinado culturalmente, algumas mulheres buscaram se libertar deste lugar de submissão ao homem, buscaram seu próprio espaço. Como oriundo de qualquer ser humano o qual se constitui na falta, era natural de se esperar que este movimento ocorresse. Mas qual a conseqüência deste movimento? Foi bom? Encontraram as mulheres o que buscavam?
Tenho minhas dúvidas quanto ao resultado. Até porque, o ser humano, homem ou mulher, tem por tendência sempre estar em busca de algo. Um ser incompleto, insatisfeito
Olhando hoje a manifestação reacionária que se deu frente a uma reportagem, fico a pensar se esta ocorre por uma luta que se mantem, por uma ferida aberta, ou por uma frustração que a mulher vivencia hoje pelas mudanças ocorridas. Esta resposta a priore não caberá a um homem. São exclusiva das mulheres somente elas sabem o que vivem e sentem. Porém, mesmo correndo o risco em ser rotulado como machista, arrisco pensar sobre o assunto.
Conforme já enunciado, outrora a mulher exercia um papel bem delimitado socialmente. Não só a mulher, a sociedade patriarcal era assim constituída. Às mulheres cabiam o papel de esposas e donas de casa, a senhora do lar. Ao homem o papel de provedor e protetor. Neste seu papel o homem por muitas vezes se portava como " dono" da mulher, e isto a impunha um papel de submissão, o que me parece a princípio a razão da revolução feminina.
Após algumas décadas de lutas e avanços, a mulher conquistou um espaço social, ainda que não seja o desejado, mas conquistou. O direito ao voto, ao gozo, são exemplos destas conquistas. Porém, junto a estas conquistas, parece- me ter ocorrido também algumas perdas, de forma que a mulher contemporânea, com suas exceções, tem consciente ou inconscientemente, que lidar com uma grande frustração.
A mulher que conquistou uma liberdade, perdeu por outro em proteção. Se outrora era refém do homem, seu movimento feminista, a tornou refém do capital, de forma que ainda hoje as mesmas são constantemente escravizadas como mão de obra de baixo custo.
A fala que hoje ecoa " bela recatada e do lar", me parece refletir algo que, ao mesmo tempo que reflete a inconformação de ser assim definida, reflete também uma frustração frente ao estado atual. Baseando no contexto histórico e também no que escuto por ai em conversas informais, a mulher contemporânea ganhou muito em espaço, porém muitas delas sentem falta da proteção que o modelo antigo a propiciava. O movimento de equiparação ao homem, traz consequências. A busca por liberdade e espaço para trabalho, choca com o desejo de ser mãe, de ser a dona do lar, tanto que muitas mulheres não conseguem ainda abrir mão em ser a dona do lar. Isto trará a mulher um fardo pesado a carregar. Fará com que a mesma se imponha a obrigação em trabalhar fora, ser esposa e ser dona de casa. Alguns diriam que o homem impõe isto, pode até ser. Mas a mulher talvez se imponha mais que o homem.
Concluindo estes pensamentos. O que vejo hoje no atual cenário, trata-se de um espaço de transição. Nem homem nem mulher estão satisfeitos com a atual situação. Talvez nunca estaremos. Mas como o tema em si é sobre as " belas recatadas e do lar" , penso que a reação que veio, traz muito mais uma frustração, que em si uma satisfação por seu estado de "liberdade?". Quanto a pergunta que me fiz no início, acho que não sou machista. Apenas me propus pensar o fato de forma um pouco mais... Mais o que? Mais imparcial talvez.

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