Com
Adão, o pecado entra no mundo, nos aponta a Bíblia no livro do Genesis. Esta
entrada do pecado no mundo, em uma visão menos Cristã, pode ser entendida como
a ânsia do sujeito pelo conhecimento, pela liberdade. O sujeito lançado no
mundo, desprotegido, desnudado, busca o conhecimento, conhecendo assim sua
própria nudez, torna se um ser, humano.
O
fato de com Adão o pecado ter entrado no mundo, cite-se pecado num sentido mais
amplo, parece ter sido a priori a origem duma desgraça sobre o homem. A
serpente seduziu a mulher, que o seduziu. Seduzido o homem apaixonado, cego
pela cobiça, vaga sem rumo por este mundo, buscando sempre algo mais, e mais, e
mais.
Dotado
de conhecimento, o homem inicia então uma ambiciosa missão. O jardim do Édem
precisa ser dominado, modificado. O homem sente-se como um ser dotado de poder,
que tudo domina, a natureza esta a seus pés, e assim o fez, e assim dominou, nasce
a cultura.
Surgido
culturalmente, o homem se estabelece. A natureza esta domesticada, o Deus todo
poderoso esta na terra. Mas neste processo cultural de dominação, de
construção, o homem cometerá um novo pecado, pior, pecado mortal, diria numa visão
Cristã.
Num primeiro momento, a maçã, símbolo da
fruta proibida, do pecado, parece saborosa. Assim também surge o capitalismo,
segundo pecado do homem. Surge como uma possível solução para as misérias
humanas, como possível ideal para uma distribuição de rendas mundialmente.
O
segundo pecado cometido pelo homem, irá assim se consolidando, enraizando. Com
o passar dos tempos, o homem que no primeiro pecado, domina, descobre e cria,
muda de posição, passa a ser dominado.
O
homem contemporâneo, Século XXI, torna se então refém de um sistema, das
máquinas. Em sua busca por existir, se perde e perde seu sentido de existência,
vivendo então em função de sua obra, escravo de sua criação.
O
fim de mais uma era se anuncia. Armageddon, não no sentido de batalha final
metafísica como no livro do Apocalipse. Mas como fim conturbado de uma era, na
esperança de que a natureza se reconstrua e que o homem possa enfim viver
harmoniosamente consigo mesmo, um novo jardim do Édem.
Valter Fernandes Ferreira.
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