Nem
Ouro
Nem
Prata
Nem
Ferro
Nem
Lata
Uma
Aliança de Vidro.
A história mostra que o uso de Aliança é uma hábito
que vem sendo utilizado a muitos anos. Os Faraós do Egito teriam sido os
primeiros a usá-las como símbolo de eternidade, um compromisso a ser honrado,
um contrato. As primeiras Alianças eram feitas de ferro, na idade média
começaram a ser confeccionadas a partir de pedras preciosas como o Rubi, que
com sua cor vermelha simbolizava o coração, e a Safira que com a cor azul
significava o Céu. Além destas, havia também o intocável diamante.
Tradicionalmente a Aliança no casamento significa união
eterna, um círculo de ouro indicando seu caráter indissolúvel, deve ser utilizado
no 4º dedo da mão esquerda como símbolo de submissão, ligando uma veia que leva
direto ao coração e reflete a união afetiva e sexual do casal, ( Lifchitz,
1991,p.183). Estes e outros significados estão fortemente ligados a este
símbolo e possuem variações dependendo da cultura na qual está inserido.
A Aliança vem sendo utilizada à alguns séculos como
símbolo de união matrimonial. Racionalmente, este deveria ser um ato realizado
de forma livre pelo casal, porém, ao longo dos anos, foi sendo consolidado como
uma obrigação social, marcado por uma sociedade machista onde a mulher
destinada ao casamento, deveria manter-se submissa ao esposo, este deveria ser
seu provedor bem como de toda a família. Com as mudanças ocorridas na
sociedade, com a independência adquirida pela mulher, perdeu-se em partes, este
caráter de submissão para a mesma, mas não se pode negar o caráter que ainda
hoje possui de obrigação imposta de um para com o outro, de pertencimento ao
outro. O fato de, culturalmente no casamento, existir a ideação de
pertencimento, levam muitos a mergulharem em verdadeiras crises de ciúmes e
inseguranças, o medo de perder aquilo que lhe foi concedido e do qual ele/ela
não viveria sem.
A simbologia de pertencimento ao outro se torna um fardo
a ser carregado. Uma imposição que pode levar ambos a anular-se em prol deste
ideal ou vive-lo de fachada, apenas para cumprir uma obrigação social,
culminando muitas vezes com a existência de famílias estabelecidas em um modelo
socialmente e economicamente correto, mas que por detrás das portas não existe,
muito menos entre quatro paredes. Desta forma, o verdadeiro ideal de uma
aliança, ai se perde. Perde-se pela imposição, por possuir um caráter consolidado
e indissolúvel, sendo indissolúvel, não precisa ser cuidado, não sendo cuidado,
regado, estará fadado a morte.
Diante de tais constatações e de fatos observáveis em
nossa sociedade, penso então sobre qual o sentido em utilizar uma aliança
carregada de tais sentidos. O ouro, como significado de preciosidade, possui
também um caráter de poder, poder e posse. O círculo que não possui um fim
significa uma relação obrigatoriamente estabelecida, como tal, corremos o
grande perigo de não cuidarmos por acreditarmos ilusoriamente no para sempre,
na utopia do até que a morte nos separe. Pensando desta forma, não encontro
então sentido para este tipo de aliança. Nem ouro, nem prata, devido ao caráter
ora exposto. Nem ferro nem lata, pois estes por suas características seriam
facilmente corroídos pela ferrugem, deteriorados pouco a pouco ao longo do
tempo. A melhor opção então, me parece uma aliança de vidro.
O vidro é como um bolo, uma mistura de ingredientes que
se leva ao fogo, neste caso se realiza a
fusão a 1500 °C. Não é algo pronto, é construído. Um material que vai adquirindo
resistência à medida que vai sendo trabalhado. Sua decomposição na natureza
pode levar um milhão de anos. Muito embora trate se de um material resistente é
ao mesmo tempo frágil, precisa de minucioso cuidado, pode quebrar caso não se
realize os manejos adequados. Requer uma vigilância, pois além de quebrar, pode
ferir aquele que o maneja, que está próximo de si. Uma Aliança de vidro pode ser
mais adequada que a de ouro, pois, mesmo constituindo o caráter de um
compromisso, se revela um compromisso que para durar uma vida nossa, precisa
ser cuidado para não quebrar, pois se se quebrar, pode ser destruído, pode
ferir, pode inclusive se tornar mortal. Precisa ser minunciosamente trabalhado para
que, pouco a pouco, vá criando resistências e se torne algo durável, e que seja eterno enquanto dure, que dure para sempre.
Valter Fernandes
Ferreira
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