Começo este pequeno texto, trazendo a memoria aulas que tive com o querido professor Luiz Rena. Aulas que abordaram principalmente as teorias de Vygotsky e Piaget. Aulas sobre Educação Formal, informal, não formal. Busco estas lembranças para pensar as observações que realizo na escola Municipal onde meu filho estuda.
Dia destes meu filho pediu para levar lanche para a escola. Algo até então natural, dentro do que já fazemos, observei porém que o pedido veio com uma justificativa a mais em um dia que eu não havia separado um lanche para levar. Tomo então conhecimento de que a instituição tem organizado o horário do recreio, separando os alunos entre quem leva seu lanche e quem não leva lanche. Os grupos ficando separados. Dai, como os colegas mais próximos de meu filho fazem parte do grupo que leva lanche, ele passou a demandar levar lanche todos os dias, pois devido a separação, estava perdendo este momento de relação social.
Frente à questão, conversei com a supervisora para melhor entender a situação. De fato é algo que realmente vem acontecendo mas não por "maldade" dos profissionais envolvidos, e sim como maneira de solucionar outra demanda. Afinal, lidar com o público não é tarefa simples como disse me uma profissional da instituição, " é difícil agradar a todos". Tomo conhecimento então que ideia de separar os grupos, veio a partir de uma demanda de alguns pais que reclamaram que outros alunos, comiam a merenda que seus filhos levavam.
Tal questão me colocou a pensar que tipo de educação desejamos aos nossos filhos? Que tipo de cidadãos pretendemos formar?
Retomando o início. A educação possui o aspecto formal, que é aquela que acorre dentro das instituições, a não formal, que ocorre fora das instituições de ensino mas de forma organizada e objetiva, e a informal, que ocorre ao longo da vida com as experiencias adquiridas nas diversas circunstancias. Penso então no aspecto informal que este acontecimento pode promover na educação dos alunos.
Embora eu compreenda a instituição e a tentativa da mesma em atender a demanda dos pais, ao separar os alunos entre quem leva seu alimento e quem não leva, penso e problematizo o que isto pode acarretar.
Sempre que meu filho levava seu lanche ele me contava sobre a partilha que realizava com os colegas, tanto no sentido de lanchar do colega quanto de permitir que o colega lanchasse do seu, falava também de um combinado onde, se alguém estivesse com o dedo cruzado, não precisa dividir. Dentro de meu ponto de vista, considero esta troca importante tanto para meu filho, quanto de forma mais abrangente, para a sociedade. Pensando em educação, a criança pode aprender ai algumas importantes lições que lhe serão importantes ao longo da vida.
Com a partilha a criança pode aprender a dividir, aprender que pode dar e receber do outro. Junto a partilha de um alimento, temos também partilha de afetos, questão esta de suma importância na formação da personalidade. Outro aspecto também de igual importância, se dá quando a criança aprende nestas relações a lidar com o limite. Quando a criança diz não ao colega, ela está aprendendo a colocar limites e quando ele recebe o não do colega, aprenderá a lidar com o limite, com a frustração.
Ainda sobre a atitude institucional de atender a uma demanda que não sei como ocorreu, coloco me no lugar das crianças que não podem levar seu lanche. Tomo aqui o cuidado de não afirmar que aconteça, mas a separação da turma entre quem leva e quem não leva seu lanche, pode contribuir diretamente para uma separação de classes. Contribuir para a construção ou para a manutenção de uma sociedade que baseia os valores em quem pode e quem não pode.Quem tem e quem não tem. Neste aspecto, quem não pode, pode vir a ter prejuízos na aprendizagem devido ao fato de que o principal fator para que ocorra efetivamente a aprendizagem, são as relações de afeto que envolvem esta.
Concluindo, saliento o quão é importante é o aspecto formal da educação no ambiente escolar. Mas alguns aspectos da edução ultrapassam os muros e as grades da instituição e, quando este fato ocorre, e sempre ocorre, cabe diretamente a nós enquanto pais, zelarmos pela educação de nossos filhos como também da educação comunitária. Cuidarmos para a construção de uma sociedade um pouco menos adoecida que esta atual onde vivemos. Se conseguirmos isto, suspeito que teremos feito um bom trabalho e teremos alguma chance de ir pro Céu.