Nada melhor que
uma boa polêmica para se vender uma notícia. Foi assim mais uma vez com a
manifestação do movimento LGBT realizado 07/06/2015, a parada Gay. Após a
manifestação deste dia, acirraram se os ânimos entre defensores da causa e
radicais religiosos, alguns não tão religiosos assim, mas que frente à
polêmica, se transvestem da armadura para defenderem arduamente uma bandeira,
promover o ódio e a intolerância.
Pensando sobre a
polemica difundida frente a forma em que se deu este movimento, nos é oportuno
refletir quem são aqueles que manifestam e quem são aqueles que criticam
arduamente o movimento LGBT e a forma de
se manifestarem.
O movimento LGBT
teve inicio no Brasil entre as décadas de 60 e 80. Devido ao preconceito e ignorância
frente ao assunto, o sujeito que se identifique com praticas homo afetivas se
verá com frequência vítima de preconceitos diversos. Pouco se sabe sobre os
fatores que levam uma pessoa a ser homossexual, muitas são as possibilidades,
desde genética à simples opção, importa saber que cada sujeito é único, única é
sua história, cabendo somente a ele decidir o que deseja fazer de sua vida.
A repressão
social sobre este público específico parece ser a principal origem das
manifestações. Quanto a forma de se manifestar, as mais extravagantes carecem serem vistas de
forma recortada para que se possa tentar entende-las, a pensar o que leva um
sujeito a quebrar uma imagem de santo durante a manifestação. Seria uma tentativa
de quebrar o símbolo daquilo que durante anos vem aprisionando aquele sujeito?
A personagem que se coloca no símbolo sagrado cristão, simbolizando a
crucificação, estaria tentando demostrar o sofrimento deste público? Afinal,
dentro do contexto histórico religioso, não foi justamente a crucificação de
cristo um símbolo de luta por liberdade? Por que então condenar?
A partir das
cenas amplamente divulgadas e do contexto histórico do movimento, podemos
pensar que em suma o que se buscou foi extravasar
a necessidade de liberdade. Mas ai podemos nos perguntar se para buscar esta
liberdade é preciso agredir a crença de outros. Talvez sim, talvez não.
Possivelmente o que se tenha buscado não seja agredir a crença do outro em si e
sim a sua própria crença. O sujeito que se rebela contra a teoria religiosa poderá
estar se rebelando sobre a própria crença embutida em sua história de vida, o
que o impede de ser plenamente o que deseja ser, podendo nem mesmo saber o que
deseja.
Pensando por
outro lado, sobre aqueles que se sentiram ofendidos frente às manifestações,
precisamos pensar quem são os que se ofendem. Historicamente sabemos bem as
origens dos pensamentos religiosos. Tento aqui entrar neste pensamento de forma a
não agredir quem se identifique com qualquer que seja sua concepção, porém tal
fato se mostra difícil. O pensamento do fundamentalista religioso se dará na
fé, no dogma, e para tal qualquer tentativa em se racionalizar o pensamento, se
dará de forma dolorosa. Mas ousemos pensar.
Nossa sociedade
é hoje ainda impactada fortemente pela cultura religiosa construída ao longo
dos séculos. A radicalidade do
catolicismo praticada na idade média, hoje se apresenta no fundamentalismo
protestante e também pode ser vista ainda no próprio catolicismo. A caçada as
bruxas ainda não acabou. Frente ao fundamentalismo do discurso, muitos sujeitos
se inflamam. A pergunta central é contra o que se inflamam?
Penso que alguns
bem poucos se condoem com seus próprios princípios, com suas construções e
modelos familiares construídos algumas décadas atrás. Para estes a manifestação
pode soar como uma ameaça a estes princípios, a suas fortalezas, como tal, uma
ameaça à própria vida, sua vida. Este sujeito me parece um pouco mais sensato. Outro
grupo, este mais jovem, se rebela de forma mais radical. Parecem-me levados por
fundamentalistas recentes, padres e pastores jovens que não dando conta de sua
própria angústia, que talvez nem se aceitem, criam grupos de outros como si e
propagam uma teoria movida pela emoção, pela radicalidade. Utilizam passagens
Bíblicas isoladas para contra atacarem quem dissemina outra possibilidade. Neste contexto, cabe
pensar ainda o papel e a responsabilidade da instituição por trás deste
sujeito. A Instituição em si se mantem a partir da adesão de adeptos a suas
teorias doutrinárias. Esta muitas vezes pode vir a ser a principal responsável
pela divagação de ideias radicais, numa sociedade sem muito sentido, oferecerá
o sentido que melhor puder ser vendido para arrebanhar adeptos. Um meio sem
dúvida movido também por interesses capitais.
Por falar em
falta de sentido, este parece ser o principal motivo dos conflitos diversos.
Nossa sociedade pós-moderna carece de sentidos. O ser em busca de si mesmo, buscando
reinventar a cada dia sua existência. Neste contexto, um ser encontra sua
oportunidade de liberdade buscando se libertar das amarras morais seculares construídas.
Outros buscam sua existência no passado, buscam eternizar um modelo que foi o
real sentido para sua descendência até então. Outros, estes os que mais sofrem,
os mais miseráveis a meu ver, não buscam nada, não possuem um ideal próprio e
divagam idéias aos quatro ventos, aceitam o que quer que se ofereça sem a
possibilidade de uma visão crítica pessoal, estão como marionetes e são os mais
perigosos, pois, não possuindo uma visão crítica e não menos angustiados, se radicalizam
de alguma forma e sem muito sentido.
O
problema então que ora se coloca, pode ser entendido grosso modo como falta de
sentido e falta de tolerância entre seres ditos humanos. Afinal, o que é mesmo
humanização? Somos humanos? Ou estaríamos voltando ao primitivismo, o que, em
última análise, poderia não ser tão ruim.