domingo, 7 de dezembro de 2014

UMA ALIANÇA DE VIDRO



Nem Ouro
Nem Prata
Nem Ferro
Nem Lata
Uma Aliança de Vidro.

            A história mostra que o uso de Aliança é uma hábito que vem sendo utilizado a muitos anos. Os Faraós do Egito teriam sido os primeiros a usá-las como símbolo de eternidade, um compromisso a ser honrado, um contrato. As primeiras Alianças eram feitas de ferro, na idade média começaram a ser confeccionadas a partir de pedras preciosas como o Rubi, que com sua cor vermelha simbolizava o coração, e a Safira que com a cor azul significava o Céu. Além destas, havia também o intocável diamante.
            Tradicionalmente a Aliança no casamento significa união eterna, um círculo de ouro indicando seu caráter indissolúvel, deve ser utilizado no 4º dedo da mão esquerda como símbolo de submissão, ligando uma veia que leva direto ao coração e reflete a união afetiva e sexual do casal, ( Lifchitz, 1991,p.183). Estes e outros significados estão fortemente ligados a este símbolo e possuem variações dependendo da cultura na qual está inserido.
            A Aliança vem sendo utilizada à alguns séculos como símbolo de união matrimonial. Racionalmente, este deveria ser um ato realizado de forma livre pelo casal, porém, ao longo dos anos, foi sendo consolidado como uma obrigação social, marcado por uma sociedade machista onde a mulher destinada ao casamento, deveria manter-se submissa ao esposo, este deveria ser seu provedor bem como de toda a família. Com as mudanças ocorridas na sociedade, com a independência adquirida pela mulher, perdeu-se em partes, este caráter de submissão para a mesma, mas não se pode negar o caráter que ainda hoje possui de obrigação imposta de um para com o outro, de pertencimento ao outro. O fato de, culturalmente no casamento, existir a ideação de pertencimento, levam muitos a mergulharem em verdadeiras crises de ciúmes e inseguranças, o medo de perder aquilo que lhe foi concedido e do qual ele/ela não viveria sem.
            A simbologia de pertencimento ao outro se torna um fardo a ser carregado. Uma imposição que pode levar ambos a anular-se em prol deste ideal ou vive-lo de fachada, apenas para cumprir uma obrigação social, culminando muitas vezes com a existência de famílias estabelecidas em um modelo socialmente e economicamente correto, mas que por detrás das portas não existe, muito menos entre quatro paredes. Desta forma, o verdadeiro ideal de uma aliança, ai se perde. Perde-se pela imposição, por possuir um caráter consolidado e indissolúvel, sendo indissolúvel, não precisa ser cuidado, não sendo cuidado, regado, estará fadado a morte.
            Diante de tais constatações e de fatos observáveis em nossa sociedade, penso então sobre qual o sentido em utilizar uma aliança carregada de tais sentidos. O ouro, como significado de preciosidade, possui também um caráter de poder, poder e posse. O círculo que não possui um fim significa uma relação obrigatoriamente estabelecida, como tal, corremos o grande perigo de não cuidarmos por acreditarmos ilusoriamente no para sempre, na utopia do até que a morte nos separe. Pensando desta forma, não encontro então sentido para este tipo de aliança. Nem ouro, nem prata, devido ao caráter ora exposto. Nem ferro nem lata, pois estes por suas características seriam facilmente corroídos pela ferrugem, deteriorados pouco a pouco ao longo do tempo. A melhor opção então, me parece uma aliança de vidro.
         O vidro é como um bolo, uma mistura de ingredientes que se leva ao fogo, neste caso se realiza a fusão a 1500 °C. Não é algo pronto, é construído. Um material que vai adquirindo resistência à medida que vai sendo trabalhado. Sua decomposição na natureza pode levar um milhão de anos. Muito embora trate se de um material resistente é ao mesmo tempo frágil, precisa de minucioso cuidado, pode quebrar caso não se realize os manejos adequados. Requer uma vigilância, pois além de quebrar, pode ferir aquele que o maneja, que está próximo de si. Uma Aliança de vidro pode ser mais adequada que a de ouro, pois, mesmo constituindo o caráter de um compromisso, se revela um compromisso que para durar uma vida nossa, precisa ser cuidado para não quebrar, pois se se quebrar, pode ser destruído, pode ferir, pode inclusive se tornar mortal. Precisa ser minunciosamente trabalhado para que, pouco a pouco, vá criando resistências e se torne algo durável,  e que seja eterno enquanto dure, que dure para sempre.

Valter Fernandes Ferreira

           

            

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