quinta-feira, 11 de junho de 2015

SER GAY, SER SANTO OU SER RADICAL? QUAL É O PECADO?

Nada melhor que uma boa polêmica para se vender uma notícia. Foi assim mais uma vez com a manifestação do movimento LGBT realizado 07/06/2015, a parada Gay. Após a manifestação deste dia, acirraram se os ânimos entre defensores da causa e radicais religiosos, alguns não tão religiosos assim, mas que frente à polêmica, se transvestem da armadura para defenderem arduamente uma bandeira, promover o ódio e a intolerância.
Pensando sobre a polemica difundida frente a forma em que se deu este movimento, nos é oportuno refletir quem são aqueles que manifestam e quem são aqueles que criticam arduamente  o movimento LGBT e a forma de se manifestarem.
O movimento LGBT teve inicio no Brasil entre as décadas de 60 e 80. Devido ao preconceito e ignorância frente ao assunto, o sujeito que se identifique com praticas homo afetivas se verá com frequência vítima de preconceitos diversos. Pouco se sabe sobre os fatores que levam uma pessoa a ser homossexual, muitas são as possibilidades, desde genética à simples opção, importa saber que cada sujeito é único, única é sua história, cabendo somente a ele decidir o que deseja fazer de sua vida.
A repressão social sobre este público específico parece ser a principal origem das manifestações. Quanto a forma de se manifestar, as  mais extravagantes carecem serem vistas de forma recortada para que se possa tentar entende-las, a pensar o que leva um sujeito a quebrar uma imagem de santo durante a manifestação. Seria uma tentativa de quebrar o símbolo daquilo que durante anos vem aprisionando aquele sujeito? A personagem que se coloca no símbolo sagrado cristão, simbolizando a crucificação, estaria tentando demostrar o sofrimento deste público? Afinal, dentro do contexto histórico religioso, não foi justamente a crucificação de cristo um símbolo de luta por liberdade? Por que então condenar? 
A partir das cenas amplamente divulgadas e do contexto histórico do movimento, podemos pensar que em  suma o que se buscou foi extravasar a necessidade de liberdade. Mas ai podemos nos perguntar se para buscar esta liberdade é preciso agredir a crença de outros. Talvez sim, talvez não. Possivelmente o que se tenha buscado não seja agredir a crença do outro em si e sim a sua própria crença. O sujeito que se rebela contra a teoria religiosa poderá estar se rebelando sobre a própria crença embutida em sua história de vida, o que o impede de ser plenamente o que deseja ser, podendo nem mesmo saber o que deseja.
Pensando por outro lado, sobre aqueles que se sentiram ofendidos frente às manifestações, precisamos pensar quem são os que se ofendem. Historicamente sabemos bem as origens dos pensamentos religiosos.  Tento aqui entrar neste pensamento de forma a não agredir quem se identifique com qualquer que seja sua concepção, porém tal fato se mostra difícil. O pensamento do fundamentalista religioso se dará na fé, no dogma, e para tal qualquer tentativa em se racionalizar o pensamento, se dará de forma dolorosa. Mas ousemos pensar.
Nossa sociedade é hoje ainda impactada fortemente pela cultura religiosa construída ao longo dos séculos.  A radicalidade do catolicismo praticada na idade média, hoje se apresenta no fundamentalismo protestante e também pode ser vista ainda no próprio catolicismo. A caçada as bruxas ainda não acabou. Frente ao fundamentalismo do discurso, muitos sujeitos se inflamam. A pergunta central é contra o que se inflamam?
Penso que alguns bem poucos se condoem com seus próprios princípios, com suas construções e modelos familiares construídos algumas décadas atrás. Para estes a manifestação pode soar como uma ameaça a estes princípios, a suas fortalezas, como tal, uma ameaça à própria vida, sua vida. Este sujeito me parece um pouco mais sensato. Outro grupo, este mais jovem, se rebela de forma mais radical. Parecem-me levados por fundamentalistas recentes, padres e pastores jovens que não dando conta de sua própria angústia, que talvez nem se aceitem, criam grupos de outros como si e propagam uma teoria movida pela emoção, pela radicalidade. Utilizam passagens Bíblicas isoladas para contra atacarem quem dissemina  outra possibilidade. Neste contexto, cabe pensar ainda o papel e a responsabilidade da instituição por trás deste sujeito. A Instituição em si se mantem a partir da adesão de adeptos a suas teorias doutrinárias. Esta muitas vezes pode vir a ser a principal responsável pela divagação de ideias radicais, numa sociedade sem muito sentido, oferecerá o sentido que melhor puder ser vendido para arrebanhar adeptos. Um meio sem dúvida movido também por interesses capitais.
Por falar em falta de sentido, este parece ser o principal motivo dos conflitos diversos. Nossa sociedade pós-moderna carece de sentidos. O ser em busca de si mesmo, buscando reinventar a cada dia sua existência. Neste contexto, um ser encontra sua oportunidade de liberdade buscando se libertar das amarras morais seculares construídas. Outros buscam sua existência no passado, buscam eternizar um modelo que foi o real sentido para sua descendência até então. Outros, estes os que mais sofrem, os mais miseráveis a meu ver, não buscam nada, não possuem um ideal próprio e divagam idéias aos quatro ventos, aceitam o que quer que se ofereça sem a possibilidade de uma visão crítica pessoal, estão como marionetes e são os mais perigosos, pois, não possuindo uma visão crítica e não menos angustiados, se radicalizam de alguma forma e sem muito sentido.

  O problema então que ora se coloca, pode ser entendido grosso modo como falta de sentido e falta de tolerância entre seres ditos humanos. Afinal, o que é mesmo humanização? Somos humanos? Ou estaríamos voltando ao primitivismo, o que, em última análise, poderia não ser tão ruim.