quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Casamentos x Religiões

 
Conflito matrimonial, o papel da igreja.
 
Dia destes ouvi de minha esposa o relato sobre uma crise matrimonial vivida por uma amiga, relato de forma resumida o caso proposto.
 
Trata-se de um casal em união matrimonial a mais ou menos três anos e sem filhos, o que a princípio era a vida dos sonhos, hoje da sinais de um relacionamento desgastado, a esposa  relata que o marido não lhe dá atenção e carinho, reclama que o mesmo trabalha voluntariamente  como músico em uma Igreja e que, em consequencia  deste trabalho, fica  várias noites semanais fora de casa, o tempo para diálogo entre o casal tornou -se raro, acrescenta que nos momentos que há oportunidade para o diálogo o mesmo não lhe dá abertura para tal, com isto cada dia mais o casamento vai se  desgastando.
 
Superficialmente avaliando a situação, questiono o impacto das religiões e dos trabalhos executados voluntariamente em prol das mesmas  nos relacionamentos conjugais, tomo como base relacionamentos estáveis. No contexto de trabalhos prestados às Igrejas alguém poderia dizer: Não se trata de um trabalho para a Igreja, é um trabalho para o outro, uma ajuda ao próximo, sim, ótimo, o que desejo questionar aqui é quando encentivado pela instituição este trabalho torna-se exagerado, quando alguém dedica vários dias ou noites semanais a trabalhos na Igreja deixando de lado a própria vida,  nestes casos afirmo, a própria instituição, ou seguimento da mesma, assume parte da culpa pelo fim dos relacionamentos, isto quando impõe que para  servir o ser precise  dedicar com certa totalidade ao trabalho na Igreja, posso afirmar se tratar de uma realidade vivenciada dentro das instituições, vivi isto pessoalmente, ouve em minha vida um momento de fanatismo religioso impulsionado por outros fanáticos onde tinha compromissos praticamente todos os dias da semana dentro da igreja, isto não é bom, não se pode cuidar do outro se não  cuidar de si mesmo, neste caso faz-se nescessario e urgente uma intervenção, um combate a este fanatismo ou, caso contrário, o trabalho na igreja contradizerá a passagem bíblica usada como fundamento para as uniões matrimoniais que rege ``O que Deus uniu o homem não separe´´.
 
 
A um tempo atrás, mais ou menos dois anos, ouvi de uma pessoa a seguinte frase : `` O que será que está acontecendo com os casais, as pessoas não se entendem mais. ´´  Nunca me esqueci desta frase, meditei várias veses sobre ela, porque não se entendem ?
Queiramos ou não somos seres individuais e individualistas, Freud aponta : ``ele estará sempre inclinado a defender seu direito à liberdade individual´´* no passado porém a individualidade era menos inpactuante nas relações matrimoniais,  olhemos para o mesmo e para os modelos familiares constituidos socialmente, de forma peculiar analizemos o papel do homem e da mulher, o homem como figura patriarcal, o provedor da família, a mulher como mãe, zeladora do lar, responsável por cuidar dos filhos e da casa, cozinhar e passar para o marido, de certa forma uma mulher submissa e este era o modelo aceito pela sociedade, na Igreja inclusive existiam funções distintas para homens e mulheres e ambos partilhavam de um mesmo pensamento religioso , olhando para estes modelos poderiamos até afirmar ser um modelo melhor, diríamos que as pessoas se entendiam mais, haviam menos separações, os relacionamentos eram duradouros, o casamento era pra sempre, como assim regia a Igreja, mas dai pra cá muita coisa mudou, a sociedade mudou, hoje praticamente inexiste aquela figura da mulher do lar e do marido provedor, a mulher conquistou espaço e autonomia, nesta mudança vejo haver conflitos, a mulher conseguiu ou está conseguindo seu espaço mas as veses  sente falta de ser a mulher esposa, de ser tratada como tal, com a mudança da mulher o homem teve que mudar e assumir um outro papel, o de também zelador do lar o que  traz conflitos para o mesmo, as tarefas da casa nescessitam serem divididas, se o homem não assume seu papel na divisão das tarefas a mulher se sobrecarrega, neste contexto as veses o homem sente falta de chegar em casa e encontrar a mulher a lhe esperar, o jantar pronto, a roupa lavada, as mudanças aconteceram e aconteceram para melhor, mais igualdade entre homens e mulheres, porém há conflitos, conflitos relacionados as mudaças, talvês ainda vivamos um período de adaptação e este seja um dos motivos pelo qual os casais não estejam se entendendo bem.
 
 
Visualizando  o problema citado no início, penso que, consequente as mudanças culturais e sociais  vivenciadas através dos tempos, as pessoas se tornaram mais individuais, se voltaram mais para o ser interior, o eu, a falta de diálogo é o grande problema nos conflitos, a esposa carente, o marido ausente, onde está o diálogo para tal, e a Igreja ? Como instituição humanitaria e construtora de um mundo melhor como ela se posiciona frente a isto, será que ela promove um diálogo ou preza por uma ``conversão´´ do outro da forma que ela quer? Não generalizo a Igreja mas fato é que muitos seguimentos da Igreja, cito e critico inclusive a Renovação Carísmatica Católica da qual fiz parte, de, ao invês de se promover o diálogo  onde, num caso como o citado, o casal chegue a uma solução mediadora,  busca outrossim a mudança da parte afetada, neste caso a mulher, busca a conversão da mesma para que ambos façam o mesmo trabalho, promove confusão, neste contexto o homem não ouvirá os apelos da esposa pois estará focado em um pensamento unilateral, a esposa  que no problema citado busca um pouco mais de atenção até concordaria e não colocaria objeção no trabalho realizado pelo esposo, até se orgulharia deste, visto que estivesse reservado um tempo para o casal, uma atitude inteligente da parte do esposo poderia até mesmo fazer com que a esposa o acompanhase em seu propósito, é preciso diálogo, é preciso inteligência de ambas as partes.
 
 
Vivemos em um mundo em constantes e rápidas mudanças, acredito ainda na instituição familiar e na instituição religiosa como base para uma sociedade melhor, não se pode negar o grande papel da religião na instituição e manutenção da família, é importante o pensamento religioso, mas no mundo atual, na vida corrida é preciso cuidado ao se impor algo  e ao se propagar um penssamento, pode ser que algumas pessoas não estejam preparadas para tal e serem levadas por uma onda de fanatismo com consequencias desastrosas, portanto, pare, ouça, conheça-te a te mesmo em primeiro lugar.
 
 
 

* FREUD,S.Malaise dans la civilization (1929)Paris, P.U.F 1970.